quinta-feira, 12 de julho de 2012

Arrependimentos

E cada detalhe parece lhe cobrar um preço. Cada momento de deslize parece exigir um aumento nos pedágios. O mundo tem uma grande placa de néon por entre a névoa, uma flecha apontada para sua cabeça, lembrando todos os erros que cometeu e querendo lhe dizer quantos mais cometerá. 
Então, me lembro que não importa o rumo que a estrada tome e que meus passos levem, estarei condenado. A partir do momento em que nasci, já estou marcado a sofrer, a ter esperança. A viver.
O peso cai de minhas costas e me deixa respirar livremente. Sou livre. E vou usar essa liberdade para mostrar a todos. Quero que esse mesmo mundo que aponta o dedo e me humilha testemunhe a ascensão de um falido, a ressurreição de um cadáver podre.
Já não sinto mais meus pés, e estou caindo. Antes de atingir o chão, eu voo. Os dias de cão chegaram ao fim.

sábado, 30 de junho de 2012

Preserve-se


O quarto estava escuro. Os lençóis, enrolados sobre os dois corpos nus. Evandro virou-se, encarou a mulher ao seu lado, deitada de costas para ele, e fitou seus longos cabelos negros. Suspirou, lembrando-se da maravilhosa noite que tiveram. Alguns minutos depois ela também acordou e o encarou. Ficaram naquela breve troca de olhares por alguns segundos antes que a mulher, assustada, olhasse no relógio e, prendendo a respiração, começasse a vestir-se com visível pressa.
     - Espere! - exclamou o homem. - Para que tanta pressa?
     - Desculpe - ela disse, enquanto prendia o sutiã em seus fartos seios -, mas tenho um compromisso urgente em menos uma hora e meia e o trânsito aqui da cidade é caótico.
     Evandro a observou colocar o restante da roupa enquanto se lembrava das inesquecíveis cenas da noite passada. Como a paquerara após alguns drinques, como ela ria de suas piadas, o modo como ela aceitou tranquila e entusiasmadamente seu convite para aquele motel e tudo o mais que acontecera depois. Ele passou a mão pelos cabelos. Decidiu que estava na hora de avançar mais naquele relacionamento.
     - Você... Poderia me dizer seu nome? - perguntou, sentindo o rosto corar com a intimidade da pergunta.
     Ela parou de se vestir e o fitou de olhos arregalados, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
     - Você é engraçado - ela lhe deu um sorriso simpático e voltou a se vestir.
     - Não! - ele exclamou. Sentou-se na cama. - Quero realmente saber seu nome.
     A mulher parou de tentar vestir o jeans apertado e se sentou na cama em frente ao homem.
     - Olha... A noite que tivemos... - explicou, de rosto vermelho. - Foi ótima! Você é muito bom de cama. Mas eu sou uma moça de família. Uma dama! Não posso simplesmente dizer meu nome para qualquer um. Sexo é uma coisa, mas dizer meu nome...? Isso já é íntimo demais.
     Evandro já esperava uma resposta daquela. Pensou por um instante em pedir a ela seu número de telefone, mas isso já seria ainda mais íntimo para uma moça de família.
     - Está tudo bem? - ela perguntou, preocupada.
     - Acho que sim... Deixe-me então lhe dizer meu nome? - indagou o outro, tirando o lençol que cobria-lhe as partes íntimas.
     - Não! - exclamou ela, ainda mais alto e colocando a mão sobre a boca de Evandro, evitando que ele fosse ainda mais íntimo. - Você não pode mostrar coisas como seu nome e seu telefone para as garotas de hoje em dia. É obsceno demais, faz você ser vulgar e baixo.
     - Mas eu quero ter algo sério com você! - explicou em resposta.
     - Não me leve a mal, você é bonito e tudo o mais, mas não posso dar meu nome para qualquer um. Ainda mais ter algo como um... namoro - cuspiu a palavra com nojo.
     Evandro abaixou a cabeça, chateado. Ela se afastou e em poucos minutos se trocou. Estava abrindo a porta do quarto para sair quando o homem lhe chamou novamente.
     - Ei! Pelo menos me passa seu e-mail!
     A mulher ficou parada na porta do quarto, assustada e, depois de olhar para os lados, gritou:
     - Pare de me pedir essas coisas nojentas seu... seu... seu TARADO!
     E bateu a porta enquanto o homem repousava seu rosto nas mãos abertas, pensando no quanto tinha estragado tudo. Por que era tão difícil saber o nome de uma garota hoje em dia?

domingo, 24 de junho de 2012

A Página em Branco


O vácuo branco
Sem estrelas, sem noite.
Apenas um vazio alvo,
um espaço pálido.
Tenho pena desse não-ser,
desse terreno de não-existo.
Quero ali semear
e plantar a tinta.
Ver crescer história,
ver crescer sentimento
no grande quadrado alvo
repleto de não-existir.
Criarei arados curvos
no terreno de vazio.
Cavá-los-ei com minhas mãos,
o farei até que elas escorreguem
gotejando suor, e sangue
da cor preta ou azul
como tinta de caneta.
Haverão hematomas no lado da mão,
grandes nódoas de grafite.
Assim, o terreno branco
já não é mais vácuo.
Está repleto de existir.
Está repleto de mim,
do meu ser.

Hectares de pasto,
terrenos povoados
de bois, de ovelhas,
cavalos e cabras.
Todos são miséria
perto de meu terreno de vazio
que apesar de não ser
tem todo o potencial
para tudo ser.
No meu pedacinho de terra,
meu pequeno quadrado alvo,
semeio o que quiser,
e verei nascer de imediato
tudo aquilo que plantar.
Ó terreno de vazio!
Meu quinhão de vácuo!
Tu mais me atrai
que qualquer outro ser,
seja formoso, belo
que posso vagar pelo mundo.
Quero preencher-te de mim,
ó folha mais alva,
quero dar-te meu tudo
quero usar-te, folha,
fazê-la de espelho
onde não verei minha face,
tampouco meu corpo.
Verei minhas ideias,
meu pensamento,
minha alma.
Tudo no terreno vazio
que agora transformei
em terras de existir
onde habita meu ser.

sábado, 23 de junho de 2012

Arrancando Páginas


Penso que nunca ouvi som mais frustrante do que o de uma página sendo arrancada de um caderno. Não somente um papel vai para o lixo, como também a prova material de um erro cometido. Ali, naquela página, há o argumento incontestável de que eu falhei, de que não consegui expressar em palavras aquilo que existe em meu ser.
Para um escritor, isso é um golpe. Cada folha que é obrigado a arrancar lhe vem como um forte soco na boca do estômago, um golpe tão certeiro que lhe tira o ar dos pulmões de uma só vez. Conforme as páginas vão sendo amassadas e, uma a uma, jogadas na lixeira, a frustração aumenta progressivamente, como um desespero silencioso que se apossa do escritor, lembrando-o que não está sendo capaz de cumprir seu trabalho, sua missão de vida.
Todos nós, seres humanos, arrancamos páginas de nossas vidas. Gostamos de apagar de nossa história momentos em que erramos e o mundo fez questão de eternizar, apontando o dedo em nossa direção e lembrando nossas falhas, defeitos e segundos de ignorância. Apagar a memória desses atos, entretanto, não ajuda. Temos que conviver com esses erros e perdoá-los. Guardamos a folha com zelo, relemo-la, analisamos os pontos onde houve falhas e, depois, recomeçamos a escrever na página seguinte, dispostos a corrigir erros passados e prevenir futuros.
Não rasgue as páginas de sua vida ou apague várias linhas que já escreveu. Apenas as reescreva, tendo em mente que, quando você fez aquilo, ainda era um(a) escritor(a) inexperiente.
É assim que um profissional das Letras evolui. É assim que os seres humanos evoluem.

sábado, 2 de junho de 2012

Eu Estive Aqui


Ao longo de minha vida, tive o coração tocado por inúmeros escritores e profissionais da música, cujas criações me arrancam suspiros de admiração até hoje. A primeira delas foi J. K. Rowling, autora da série Harry Potter e a grande responsável por minha paixão literária. Os livros de Rowling acessaram cantos de minha alma que permaneciam obscuros e intocáveis. A história de um garoto órfão que descobre que é um bruxo não somente me entreteve, como também escancarou uma grande cratera nas barreiras que mantinham minha imaginação guardada, fazendo-a jorrar de maneira incontrolável e viciante. “Harry Potter e a Câmara Secreta” foi o primeiro livro com mais de 100 páginas que li e a primeira vez em que descobri ser possível viajar e viver outra vida através de simples folhas de papel e tinta. Hoje, J. K. Rowling me é uma deusa nórdica, uma Musa grega e um anjo cristão. Tudo aquilo que sonho me tornar teve, algum dia, suas bases nessa escritora.
No campo da música, minhas inspirações na infância foram extremamente pobres. Gostava de músicas apenas por gostar, sem ter um motivo específico para isso. Entretanto, meus gostos atuais são, felizmente, um pouco complexos. Minha seleção de músicas se resume a melodias que possam abrir minha mente e me fazer voar, quase como nos livros. O som da banda Florence and the Machine, por exemplo, me faz querer dançar, me dá coragem e inspiração, quase como se soprasse um fantasma em meus pulmões. A voz de Florence Welch, a vocalista, me eleva às alturas sem que eu precise de asas, faz minha pequena chama de existência brilhar como uma grande fogueira, como uma estrela jovem e ascendente. Músicas como “Cosmic Love” e “Drumming Song” me fazem ter vontade de pegar uma garota pela cintura e fazê-la bailar, fazê-la esvoaçar seu vestido de um lado para o outro, fazê-la ter vontade de cantar, ter vontade de amar. Fazê-la me amar. Já “Breath of Life” me preenche de uma inexplicável bravura. O som épico da música me traz as nítidas sensações de pegar o punho de uma espada e lutar, banhar o solo com o sangue quente do inimigo e defender aquilo que amo sem qualquer temor ou receio.
Nos livros, são Rowling, Tolkien, Lewis, Martin, Sartre, Jorge Amado e Eduardo Spohr. Na música, são Florence and the Machine, Kelly Clarkson, Lea Michele e Adele. Todas essas personalidades me inspiram, me incentivam a viver e a buscar meus sonhos quase impossíveis. Meu coração foi tocado por elas de maneira única, como as mãos de um anjo poderiam envolver minha alma. Um dia, quando todos já estiverem mortos, sendo que alguns já estão, eles ainda terão vida em meu coração, seja em seus livros, seja em suas músicas, seja em suas vozes. Porque eles irão viver para sempre nesse mundo, uma vez que sua alma permanece intacta em suas obras e no coração das pessoas que tiveram acesso a elas.
É por isso que meu sonho não é somente ser um escritor famoso, como a Stephanie Meyer. Quero que meus livros possam inspirar as pessoas a continuar vivendo, possa ajudá-las a encontrar seus próprios sonhos ou a si mesmas. Quero que meus livros tirem as almas brilhantes dos seres humanos da nebulosa e espessa escuridão da ignorância. Um dia, sonho em saber que alguém leu meus escritos com um suspiro, um lágrima a escorrer lentamente pelo rosto, um sorriso jovial a marcar a o mundo, uma chama de determinação a brilhar por entre as dúvidas existenciais.
Sonho em ser um modelo a se seguir, uma pessoa cuja história possa oferecer lições, um homem sem arrependimentos, sem medo de temer, bravo ao viver. Quero tocar corações, mudar opiniões. Quero ser uma desculpa para reflexões.
Um dia, deixarei para trás não apenas meus livros. Deixarei para trás fragmentos valiosos e únicos de minha alma, como uma herança cultural para a História.
Sem mais delongas, eis uma música que traduz todo esse sonho.

Deixe nos cometários o nome daqueles que te inspiram e como você pretende fazer igual

Eu Estava Aqui

Quero deixar minhas pegadas
Sobre as areias do tempo
Sei que havia algo que
E algo que deixei para trás
Quando eu deixar este mundo
Vou deixar sem arrependimentos
Deixar algo para se lembrar
Então eles não vão esquecer

Eu estava aqui ...
Eu vivi, eu amei
Eu estava aqui ...
Eu fiz, eu concluí, tudo que eu queria
E foi mais do que eu pensei que seria
Vou deixar minha marca para que todos saibam
Eu estava aqui ...

Eu quero dizer que eu vou viver cada dia
Até eu morrer
E saber que eu tinha algo
Na vida de alguém
O coração que eu me toquei
Será a prova de que eu deixo
Que fez a diferença
E este mundo vai ver

Eu estava aqui
Eu vivi, eu amei
Eu estava aqui
Eu fiz, eu fiz tudo o que eu queria
E foi mais do que eu pensei que seria
Vou deixar minha marca para que todos saibam

Eu estava aqui
Eu vivi, eu amei
Eu estava aqui
Eu fiz, eu fiz tudo o que eu queria
E foi mais do que eu pensei que seria
Vou deixar minha marca para que todos saibam
Eu estava aqui

Eu só quero que eles saibam
Que eu dei o meu tudo
Fiz o meu melhor
Trouxe alguém para a felicidade
Deixou este mundo um pouco melhor
Simplesmente porque
Eu estava aqui

Eu estava aqui
Eu vivi, eu amei
Eu estava aqui
Eu fiz, eu fiz tudo o que eu queria
E foi mais do que eu pensei que seria
Quero deixar minha marca para que todos saibam

Eu estava aqui
Eu vivi, eu amei
Eu estava aqui
Eu fiz, eu fiz
Eu estava aqui
Eu vivi, eu amei
Eu estava aqui
Eu fiz, eu fiz
Eu estava aqui


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sobre o Autor que Vos Escreve


Sentiria estar fazendo algo incompleto se o primeiro post desse blog não me apresentasse. A mim, que estarei dedicando tempo e energia no ato de entregar aos leitores um mero fragmento de meus pensamentos e minhas ideias que, por si, já não valem muito.
Meu nome é Fernando Azevedo e, presunçosamente, sugiro que o anote, pois um dia poderá precisar se lembrar dele no momento em que comprar um livro decente qualquer. Sim, como já é possível pressupor, meu sonho é ser escritor. Não um escritor. O escritor.
No momento em que esse post é lançado, tenho 17 anos e curso o último ano do Ensino Médio, focando-me em atividades como escrever meu livro e estudar para o vestibular do curso de Letras (Licenciatura) na Unesp de São José do Rio Preto.
Sou um minúsculo pensador. Vejo-me como uma consciência oscilante entre tantas, às vezes uma estrela guia por entre o céu escuro, às vezes um vaga-lume entre várias luminárias intensas, às vezes como um amontoado de elementos químicos prestes a explodir numa grande estrela, pronta para oferecer calor e vida a outros planetas, a outras consciências.
Como escritor, sou um sonhador. Imagino, atuo, me emociono, simulo. Acima disso, enlouqueço, pois a sanidade me é algo importuno e imprestável. Se eu fosse são, com certeza enlouqueceria, então prefiro ser louco para não enlouquecer.
Como leitor assíduo e apaixonado, ainda sou escritor. Prefiro uma realidade falsa do que a falsidade verdadeira em que vivo. Prefiro ser mágico, diferente, do que me encarar como um ser igual. Mesmo como mera consciência oscilante, permaneço único e isso já me é de ótimo tamanho.
Quanto ao que postarei no blog, não garanto. Irei apenas escrever e postar. Peço que me acompanhe por um tempo e quem sabe assim poderá constatar por si o que escrevo.
Sobre o nome do blog, justifico-me com a teoria de que literatura é música. Um livro é uma melodia, um álbum, uma orquestra, uma ópera. Escrever é compor uma música que irá reverberar pelo mundo e preencher a alma das pessoas. Ler é escutar a melodia dos cegos, é sentir o canto dos sábios, é provar do timbre inconfundível e apaixonante do conhecimento.
Espero que aquilo que escrever lhe agrade e que possa se expressar caso contrário.

Cordialmente,
Fernando Azevedo.