sábado, 23 de junho de 2012

Arrancando Páginas


Penso que nunca ouvi som mais frustrante do que o de uma página sendo arrancada de um caderno. Não somente um papel vai para o lixo, como também a prova material de um erro cometido. Ali, naquela página, há o argumento incontestável de que eu falhei, de que não consegui expressar em palavras aquilo que existe em meu ser.
Para um escritor, isso é um golpe. Cada folha que é obrigado a arrancar lhe vem como um forte soco na boca do estômago, um golpe tão certeiro que lhe tira o ar dos pulmões de uma só vez. Conforme as páginas vão sendo amassadas e, uma a uma, jogadas na lixeira, a frustração aumenta progressivamente, como um desespero silencioso que se apossa do escritor, lembrando-o que não está sendo capaz de cumprir seu trabalho, sua missão de vida.
Todos nós, seres humanos, arrancamos páginas de nossas vidas. Gostamos de apagar de nossa história momentos em que erramos e o mundo fez questão de eternizar, apontando o dedo em nossa direção e lembrando nossas falhas, defeitos e segundos de ignorância. Apagar a memória desses atos, entretanto, não ajuda. Temos que conviver com esses erros e perdoá-los. Guardamos a folha com zelo, relemo-la, analisamos os pontos onde houve falhas e, depois, recomeçamos a escrever na página seguinte, dispostos a corrigir erros passados e prevenir futuros.
Não rasgue as páginas de sua vida ou apague várias linhas que já escreveu. Apenas as reescreva, tendo em mente que, quando você fez aquilo, ainda era um(a) escritor(a) inexperiente.
É assim que um profissional das Letras evolui. É assim que os seres humanos evoluem.

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