Penso
que nunca ouvi som mais frustrante do que o de uma página sendo arrancada de um
caderno. Não somente um papel vai para o lixo, como também a prova material de
um erro cometido. Ali, naquela página, há o argumento incontestável de que eu
falhei, de que não consegui expressar em palavras aquilo que existe em meu ser.
Para
um escritor, isso é um golpe. Cada folha que é obrigado a arrancar lhe vem como
um forte soco na boca do estômago, um golpe tão certeiro que lhe tira o ar dos
pulmões de uma só vez. Conforme as páginas vão sendo amassadas e, uma a uma,
jogadas na lixeira, a frustração aumenta progressivamente, como um desespero
silencioso que se apossa do escritor, lembrando-o que não está sendo capaz de
cumprir seu trabalho, sua missão de vida.
Todos
nós, seres humanos, arrancamos páginas de nossas vidas. Gostamos de apagar de
nossa história momentos em que erramos e o mundo fez questão de eternizar,
apontando o dedo em nossa direção e lembrando nossas falhas, defeitos e segundos
de ignorância. Apagar a memória desses atos, entretanto, não ajuda. Temos que
conviver com esses erros e perdoá-los. Guardamos a folha com zelo, relemo-la,
analisamos os pontos onde houve falhas e, depois, recomeçamos a escrever na
página seguinte, dispostos a corrigir erros passados e prevenir futuros.
Não
rasgue as páginas de sua vida ou apague várias linhas que já escreveu. Apenas
as reescreva, tendo em mente que, quando você fez aquilo, ainda era um(a)
escritor(a) inexperiente.
É
assim que um profissional das Letras evolui. É assim que os seres humanos
evoluem.
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