domingo, 24 de junho de 2012

A Página em Branco


O vácuo branco
Sem estrelas, sem noite.
Apenas um vazio alvo,
um espaço pálido.
Tenho pena desse não-ser,
desse terreno de não-existo.
Quero ali semear
e plantar a tinta.
Ver crescer história,
ver crescer sentimento
no grande quadrado alvo
repleto de não-existir.
Criarei arados curvos
no terreno de vazio.
Cavá-los-ei com minhas mãos,
o farei até que elas escorreguem
gotejando suor, e sangue
da cor preta ou azul
como tinta de caneta.
Haverão hematomas no lado da mão,
grandes nódoas de grafite.
Assim, o terreno branco
já não é mais vácuo.
Está repleto de existir.
Está repleto de mim,
do meu ser.

Hectares de pasto,
terrenos povoados
de bois, de ovelhas,
cavalos e cabras.
Todos são miséria
perto de meu terreno de vazio
que apesar de não ser
tem todo o potencial
para tudo ser.
No meu pedacinho de terra,
meu pequeno quadrado alvo,
semeio o que quiser,
e verei nascer de imediato
tudo aquilo que plantar.
Ó terreno de vazio!
Meu quinhão de vácuo!
Tu mais me atrai
que qualquer outro ser,
seja formoso, belo
que posso vagar pelo mundo.
Quero preencher-te de mim,
ó folha mais alva,
quero dar-te meu tudo
quero usar-te, folha,
fazê-la de espelho
onde não verei minha face,
tampouco meu corpo.
Verei minhas ideias,
meu pensamento,
minha alma.
Tudo no terreno vazio
que agora transformei
em terras de existir
onde habita meu ser.

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