sábado, 30 de junho de 2012

Preserve-se


O quarto estava escuro. Os lençóis, enrolados sobre os dois corpos nus. Evandro virou-se, encarou a mulher ao seu lado, deitada de costas para ele, e fitou seus longos cabelos negros. Suspirou, lembrando-se da maravilhosa noite que tiveram. Alguns minutos depois ela também acordou e o encarou. Ficaram naquela breve troca de olhares por alguns segundos antes que a mulher, assustada, olhasse no relógio e, prendendo a respiração, começasse a vestir-se com visível pressa.
     - Espere! - exclamou o homem. - Para que tanta pressa?
     - Desculpe - ela disse, enquanto prendia o sutiã em seus fartos seios -, mas tenho um compromisso urgente em menos uma hora e meia e o trânsito aqui da cidade é caótico.
     Evandro a observou colocar o restante da roupa enquanto se lembrava das inesquecíveis cenas da noite passada. Como a paquerara após alguns drinques, como ela ria de suas piadas, o modo como ela aceitou tranquila e entusiasmadamente seu convite para aquele motel e tudo o mais que acontecera depois. Ele passou a mão pelos cabelos. Decidiu que estava na hora de avançar mais naquele relacionamento.
     - Você... Poderia me dizer seu nome? - perguntou, sentindo o rosto corar com a intimidade da pergunta.
     Ela parou de se vestir e o fitou de olhos arregalados, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
     - Você é engraçado - ela lhe deu um sorriso simpático e voltou a se vestir.
     - Não! - ele exclamou. Sentou-se na cama. - Quero realmente saber seu nome.
     A mulher parou de tentar vestir o jeans apertado e se sentou na cama em frente ao homem.
     - Olha... A noite que tivemos... - explicou, de rosto vermelho. - Foi ótima! Você é muito bom de cama. Mas eu sou uma moça de família. Uma dama! Não posso simplesmente dizer meu nome para qualquer um. Sexo é uma coisa, mas dizer meu nome...? Isso já é íntimo demais.
     Evandro já esperava uma resposta daquela. Pensou por um instante em pedir a ela seu número de telefone, mas isso já seria ainda mais íntimo para uma moça de família.
     - Está tudo bem? - ela perguntou, preocupada.
     - Acho que sim... Deixe-me então lhe dizer meu nome? - indagou o outro, tirando o lençol que cobria-lhe as partes íntimas.
     - Não! - exclamou ela, ainda mais alto e colocando a mão sobre a boca de Evandro, evitando que ele fosse ainda mais íntimo. - Você não pode mostrar coisas como seu nome e seu telefone para as garotas de hoje em dia. É obsceno demais, faz você ser vulgar e baixo.
     - Mas eu quero ter algo sério com você! - explicou em resposta.
     - Não me leve a mal, você é bonito e tudo o mais, mas não posso dar meu nome para qualquer um. Ainda mais ter algo como um... namoro - cuspiu a palavra com nojo.
     Evandro abaixou a cabeça, chateado. Ela se afastou e em poucos minutos se trocou. Estava abrindo a porta do quarto para sair quando o homem lhe chamou novamente.
     - Ei! Pelo menos me passa seu e-mail!
     A mulher ficou parada na porta do quarto, assustada e, depois de olhar para os lados, gritou:
     - Pare de me pedir essas coisas nojentas seu... seu... seu TARADO!
     E bateu a porta enquanto o homem repousava seu rosto nas mãos abertas, pensando no quanto tinha estragado tudo. Por que era tão difícil saber o nome de uma garota hoje em dia?

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